Camiseta pra mim e body pra Tarsila.

Um verdadeiro panfleto Hare Krishna cheio de jardins, amigos pulando e alguém tocando violão pra galera deitada na canga.
No meio desse cenário, estaria eu.
A grávida mais paparicada do século.
Sentada num cristal gigante e gargalhando enquanto passo a mão na barriga.
A gente está vivendo uma pandemia, enquanto a cadeira presidencial do Brasil é ocupada acidentalmente por um bufão decrépito que travou uma batalha pessoal com a única luz no fim do túnel: a vacina.
É muito estranho e dicotômico estar plena e gerando uma vida dentro de mim, enquanto o mundo lá fora desaba.
Tenho variado entre me achar muito feia e engraçadinha. Meu corpo está bem disforme.
A bunda me faz parecer da família Kardashian.
Os peitos estão ainda maiores que a bunda.
Os culotes da minha avó colaram aqui em mim.
Mas a barriga é o que mais me incomoda.
Bem, é preciso dizer que sofro de distúrbio alimentar por conta da ansiedade e da depressão. Tenho que dizer essa frase no presente porque quem tem esse tipo de problema, tem que viver atenta.
Isso não se cura. Se controla.
Posso estar com 30% ou 7% de gordura.
Não importa. Sempre esmago minhas bordinhas muitas vezes por dia.
Eu me incomodava com a barriga mesmo quando fazia dieta low carb e treinava 2 vezes por dia, imagine agora que acordo de madrugada pra comer...
Tenho também certa dificuldade de entender o que é fome. Quem já viveu um quadro de anorexia deve me entender. A gente treina tanto nosso cérebro pra não sentir vontade de comer que acabamos perdendo essa capacidade.
Não sei se é cólica, vontade de ir ao banheiro ou gases. Às vezes, preciso ouvir minha barriga roncar para concretizar que é fome o que estou sentindo.
Aos poucos, tenho melhorado essa percepção e cada vez como mais.
Engravidei pesando 48kg.
Já estou com 54kg.
6kg em 4 meses.
E agora? Tá certo isso?
Existe uma barriga de grávida ideal?
Devo aceitar as formas redondas que meu corpo tem revelado ou controlar esse prazer que a gestação me proporcionou?
Comer está mais gostoso do que nunca.
Não lembrava o que era isso há muito tempo.