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  • 9 de jan. de 2022
  • 3 min de leitura

Quando ela ainda estava na minha barriga, as pessoas já perguntavam quem seriam os padrinhos da nossa filha. Já digo que a resposta não tão simples.



Acho que desde sempre, a escolha dos padrinhos serve aos adultos e não às crianças. Isso não tem muito sentido pra mim.

O convite de apadrinhamento funciona quase como um certificado de honra.


“Considero que você preenche todos os requisitos para me substituir nessa jornada de cuidar do meu bem mais precioso caso eu morra: meu filho.”


Isso é uma bobagem.

Primeiro porque, se o objetivo é cuidar da criança na sua ausência, quem fica com a guarda de uma criança na falta dos pais são os avós.

Inclusive, ao que me consta, os avós paternos têm prioridade.


Depois, porque, se o objetivo é definir uma referência pra sua cria, só quem estiver presente no dia a dia dela vai de fato ser referência pra ela. Quem tem influência sobre a personalidade de uma criança é quem convive com ela. Isso é certo. Só com muito estímulo dos pais, uma pessoa distante vai se tornar uma inspiração viva na memória da criança.



Claro que há algo de lúdico na figura do padrinho.


Eu lembro de morrer de inveja da minha prima que era afilhada do tio mais incrível de todos. O tio que fazia chuva de bala Chita pras crianças e arrancava gritos animados da plateia mirim: Ti Tunin! Ti Tunin!


Meus pais escolheram os tios mais tradicionais como meus padrinhos. Acabamos tendo pouquíssima convivência já que eles mudaram de estado quando eu ainda era criança.

Então eu não tive aquela coisa mágica de passar uma tarde toda com meus padrinhos. Não me lembro de muitas passagens marcantes com eles. Acho que eles nunca brincaram comigo, me enrolaram na toalha quando eu saí da piscina ou cuidaram de mim de um jeito especial.


Hoje em dia a gente vê muito mais madrinhas (nem digo padrinhos, porque... HOMENS) participando ativamente da criação dos afilhados.


A ideia de ter essa segunda figura maternal dando carinho e atenção pra minha filha é boa. Mas eu prefiro a ideia de ter várias dessa figura aí.


Se é preciso uma tribo inteira pra criar uma criança, eu quero ter todas as pessoas que amam a Tarsila por perto. Cada um do seu jeito e dedicando pra ela o tempo que for possível.


Fazendo bolhas de sabão.

Limpando cocô radioativo.

Escolhendo uma roupinha que a mamãe e o papai jamais escolheriam pra ela usar.

Dando um rolê com ela pra mamãe transar ou, quem sabe, fazer uma máscara de argila.


Eu gosto mesmo é da possibilidade de ter muitos padrinhos compartilhando seu bem mais precioso com a minha filha: seu tempo.


Por isso, decidimos não decidir nada.

Não vamos escolher os padrinhos dela.


Os padrinhos dela são uma mistura entre todo mundo e ninguém.

Ao mesmo tempo, muita gente e nenhuma pessoa.



A nossa vontade é reunir algumas pessoas que admiramos e que gostaríamos que fossem referências positivas pra ela e dizer:

Ceis são tudo padrinho dela até ela dizer se quer escolher um par de padrinhos nesse modelo mais convencional.


Ela pode querer só ganhar uns presentes mais especiais no Natal e escolher quem vai ser obrigado a assistir mil vezes às cambalhotas que ela der.


Ela pode escolher ter isso de um monte de gente ou só de duas pessoas.

A escolha será dela.

Sempre dela.


.


Em tempo, amo meu afilhado. E também morro de culpa por ser tão ausente.

Sorte a minha que a Xanda (minha prima-irmã) já montou logo um comitê de padrinhos pro Lucas! Assim, nunca falta a atenção e o carinho que ele merece.

  • 5 de jan. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 6 de jan. de 2022


Não quero cair no clichê de afirmar que só sabe o que é amor de verdade quem já teve um filho. Também não me interessa tentar descrever o indizível. Mas ter filho pode ser uma lombra particularmente intensa.




Acredito que o amor tem muitas dimensões além da interpessoal.

(Esses tão valorizados amores de amigos, familiares, casais, trisais e todas as variações possíveis.)


A gente também sente amor social, ambiental, planetário, humanitário, sei lá. São tantos amores possíveis pra amar nessa vida.

(Menos pro Bolsonaro, que só sabe odiar mesmo.)


Eu vejo beleza em todos eles. Por isso, flerto com todos os tipos de amores e paixões.


Sou uma apaixonada por tudo que me proponho a fazer. E, às favas com a modéstia, faço muito bem tudo que faço.

(Adoro essa expressão de velho que é quase o título de uma peça de teatro: Às favas com os escrúpulos.)



Dito tudo isso, na minha breve experiência, posso dizer que o amor materno é (ou pode ser) um universo inteiro eternamente em expansão.


Disse que não ia tentar descrever. Descrevi.

Ser mãe tem sido esse desdizer, desouvir e desescrever o tempo todo.




Sinto um amor que dá vontade de viver pela eternidade. E, veja bem, eu sou ateia.


Não acho que tem um cara lá em cima e nem uma energia mística orquestrando o acontecimento das coisas. Não acredito em qualquer lance que envolva uma Paulinha sem casco vagando por aí na expectativa de encontrar a galera que estava aqui na Terra.


Tentei muito acreditar na real em alguma religião porque sou fascinada pela fé.


Frequentei um centro de Umbanda durante alguns dos anos que morei em São Paulo. Então, antes eu me dizia umbandista. Hoje, posso dizer que sou absolutamente cética.


Acredito que a vida é uma poesia do acaso. Linda e trágica ao mesmo tempo. Cheia de regras e com poucas exceções. Como a matemática da própria natureza.


Não sinto nenhum desespero por isso. Pelo contrário, cada vez mais tenho a tranquilidade de encarar que só nos resta viver intensamente e com completude o tempo que nos resta por aqui.



Nosso papel é ser feliz. Deixar um planeta habitável pros que vão nos substituir por aqui. Cuidar dos outros. Deixar os outros serem felizes também.



Isso aqui tudo passa. É tão rápido quanto um sopro. Termina de repente, sem chance de retroceder. A nossa vida individual é só uma etapa dentro de um processo maior de evolução da civilização humana como um todo.


Então, não acho que eu e a Tarsila já nos trombamos em outras vidas. Não acredito que temos karmas antigos pra resgatar uma com a outra.


É justamente por isso, que quero exercer a melhor maternidade que eu puder.


Nessa vidinha aqui que a gente tem agora. Agora mesmo. Nesse instante.


A maternidade acelerou meu processo de compreensão da total efemeridade de todas as coisas ao mesmo tempo que me deu vontade de me agarrar com força à minha existência.


Não é que agora eu queira ser imortal. Mas é que eu queria ganhar um tempo extra de vida aqui na Terra pra acompanhar as descobertas, as conquistas e a jornada dessa vidinha que acabou de começar.


Não pela vaidade egoísta de acreditar que minha filha só pode viver bem sob meus cuidados. A vida dá um jeito de ser boa de alguma forma.

(Considerando todos os enormes privilégios da branquela de classe média aqui.)



Já que não serei eu a primeira imortal da humanidade, me pergunto o tempo todo o que eu realmente quero deixar pra minha filha.


A resposta nem passa parte de ser dinheiro.


A partir de agora, a Tarsila vai estruturar toda a sua existência. Toda criança guarda dentro de si aquela tão sonhada chance de começar.


Já parou pra refletir sobre como o início de tudo é importante?


Pulmão zerado, fígado no talo, coração purinho sem nenhum remendo. Não quero logo eu ser a responsável pelas cicatrizes que inevitavelmente vão surgir um dia.

(E já vem um tanto de culpa materna aí, é claro.)


Quero minha filha livre e segura. Com o caderninho de traumas vazio de apontamentos sobre a nossa relação de mãe e filha. Quero que a gente tenha cumplicidade pra dividir nossos sentimentos e que ela se sinta poderosa e encorajada por mim.


A vida humana é tão preciosa, né?


Por isso, quero proporcionar o essencial pra essa vida que acabou de chegar e permitir que ela aproveite cada segundo da sua existência da melhor maneira possível.


Meu desejo é oferecer as melhores oportunidades que nos forem possíveis com leveza, amor, compreensão e escuta. Sem excessos, mas sem faltar o que realmente importa.


Quero ensinar pra ela o que é realmente valioso no período entre a estreia dela nessa vida até a cortina se fechar. A cortina vai fechar um dia. Essa é a certeza que temos.


Quero demonstrar pra ela o tamanho absurdo dos nossos privilégios. Que ela saiba que não somos melhores do que ninguém e que NADA do que possuímos é só uma questão de merecimento.


Apesar disso, quero incentivar seu esforço individual e valorizar o mérito das suas conquistas a partir das oportunidades que a gente vai proporcionar.


Nesse país tão desigual, quero que ela entenda a importância de olhar para o próximo com carinho, atenção e empatia. Que ela enxergue a discrepância de oportunidades entre os seres humanos do mundo todo. E assim, que ela saiba a importância de dividir o que se tem.


Que ela valorize a força do coletivo e da comunidade. Que ela entenda que se não vivemos pela sociedade, estamos morrendo um dia por vez enquanto civilização. Como diz o filme, a felicidade só é completa quando compartilhada.


O que vale são os amigos e as boas risadas.


O que importa é ter gente pra dançar com você e escutar as músicas que você também gosta.

(Ou não.)


O que interessa é viver experiências que a gente nunca esqueça.


Momento felizes, conversa boa, massagem nos pés, carinho nas costas.


Dinheiro é bom, é necessário, mas não é tudo. Não pode ser o objetivo absoluto de todas as coisas.


Não quero garantir uma previdência privada ou manter a dinastia da família até a quinta geração.


Um fundo de investimento em bitcoins no nome da Tarsila garantiria menos felicidade do que ter nossa família presente e uma criação cheia de afeto.



  1. A importância de viver o agora.

  2. A importância das pequenas coisas.

  3. A importância de dizer eu te amo.

  4. A importância de amar ao próximo.

  5. A importância de cada vida humana.

  6. A importância do saber.

  7. A importância de cuidar do corpo e da mente.

  8. A importância de cuidar do planeta.

  9. A importância de lutar.

  10. A importância da sua própria vida.


Resumo de tudo: Consciência.

É isso que eu quero deixar pra minha filha.




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