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  • 10 de dez. de 2020
  • 1 min de leitura

Minha escrita está difícil.


Não consigo mais encontrar as palavras que dão mais contornos e significados às minhas frases. Eu sou óbvia, clara e sem graça agora.


O que você está lendo é isso mesmo que eu quero dizer.


Não tem um sentido mais profundo, não tem delicadeza e você nem precisa se esforçar pra entender a totalidade das minhas linhas.


Eu costumava escrever as entrelinhas, usar metáforas e termos com significados múltiplos. Adorava amarrar uma história toda só nas últimas frases. Jogar verbos potentes em frases solitárias que encadeavam a minha respiração.


Gostava de sentir que o meu texto era o texto de quem lia.

Pra cada pessoa, um significado diferente.


Quantas vezes minha irmã me perguntou se eu havia escrito pra ela. Quantas amigas e amigos usaram meus contos e poemas para explicar o que eles estavam sentindo naquele momento. Uma até me pediu pra assinar com o nome dela.

Eu deixei.


Afinal as palavras estão aí e a mistura delas é eterna. Depois escrevo outro, outros, milhares de outros, infinitos outros.


Agora o léxico me trai. Não é o velho clichê de que as palavras me escapam. Elas estão aqui, mas só as pueris e ululantes.


E este é o fim possível dessa divagação das 10 semanas (tem uma azeitona verde no meu útero ao que tudo indica).


Pelo menos consegui usar: contornos, entrelinhas, metáforas, léxico, pueris e ululantes.

  • 26 de nov. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 27 de jan. de 2021


O inferno de Dante. Um caos hormonal. Uma bosta. Uma merda.

Não compreendo com a civilização continua crescendo.

Eu mesma parei de existir. Minha vontade não é respeitada. Meus traumas são invalidados. Meus desejos individuais são deslegitimados.


À minha volta:

Foda-se o enjoo, sente esse cheirinho de feijão no fogo.

Foda-se o seu paladar, come esse pratinho molhudo e cheio de carne vermelha.


Em meu interior:

Foda-se seu sono, levante às 4h e coma! Coma qualquer coisa. Coma toda hora.

Coma! Mije! Peide! Enjoe! Arrote!


Eu ainda não entendi a parte boa do rolê.

Eu ainda não encontrei a alegria de viver uma gravidez.

A gestação é muito agressiva ao corpo da mulher.

  • 26 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 27 de jan. de 2021


Afinal, não matei o Bruno.

Preferi manter o pai do meu filho vivo e a mãe em liberdade.


Minhas amigas maravilhosas se dividiram em escalas para me dar carinho, chás, massagem com lavanda e mc donald´s.

Falamos muito mal do Bruno em conjunto e, depois de muita raiva destilada, decidi prosseguir com esse rapaz que escolhi para criar um filho comigo.


Ainda o odiando bastante, pedi para ele me levar para a acupuntura.

(Vou pedir um milhão de coisas para dar muito trabalho pra ele.)


Eu já tinha ido ao consultório da Maria e já tinha me apaixonado por ela antes.


Acho que ela também me curtiu, porque chegando lá, a primeira coisa que ela me disse foi:


_ Sabe que gestante não pode fazer acupuntura, né? Não deixo elas nem passarem pela porta. Sua sorte é que eu tenho outras especialidades. Vamos fazer Barra de Acces, mas antes me conte o que está acontecendo.


Contei do processo da perda do neném, da nova gravidez, da língua maior que a boca do Bruno, da minha mais absoluta raiva dele e da minha enxaqueca que já durava mais de 48 horas.


Ela me perguntou como eu imaginava matá-lo.


_ Eu me imaginei matando ele na mesma bala do Bolsonaro. E o Bolsonaro era só o brinde. Entende isso? Entende o tamanho do ódio? Pra mim o Bruno era pior que o BOL-SO-NA-RO!


Na minha cabeça, eu dava um tirão na testa do Bruno com uma arma bem potente (que eu teria que pesquisar porque não entendo nada disso). A bala atravessava a cara dele e acertava a do Boçal em seguida.


O povo brasileiro me saudava, enquanto eu justificava:

_Eu queria matar só meu marido mesmo, mas aceito a estátua em minha homenagem. De nada, povo brasileiro!


Aí, a Maria responde:

_Corre pra maca!


.

ANOTAÇÃO:

A Barra de Access é uma coisa maravilhosa! Saí de lá pisando nas nuvens. Leve como quem tomou um tramal na veia.

Façam!


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