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  • 30 de dez. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 26 de jan. de 2021

A Argentina legalizou o aborto e eu sou só felicidade.

Como é potente estar grávida e defender o aborto legal.


As mulheres estão abortando. Quer você queira, quer não.

Na época das nossas avós, usavam talo de mamona.

Na das nossas mães, cabides de arame.

Agora, Citotec.


Em comum entre elas duas coisas:

1. Muitas morrem tentando.

2. Elas continuam abortando.


Você não controla o útero de uma mulher. Se ela quiser abortar. Ela vai abortar.

Legalizar o aborto inclui uma série de medidas governamentais como apoio psicológico à mulher. Ela pode estar só confusa ou até sendo obrigada pelo “parceiro”. Por isso, a legalização não deve refletir no aumento de interrupções voluntárias da gravidez.


Então, por que eu defendo o aborto legal sendo que decidi prosseguir com a minha gestação?


Sou uma mulher branca, de classe média e que estudou nas melhores escolas de Brasília. Tive educação sexual, biologia e filosofia de alta qualidade durante toda minha formação.

Minha mãe me levou ao ginecologista assim que menstruei e automaticamente comecei a tomar pílulas anticoncepcionais.


Não podemos pautar a discussão sobre o aborto por mulheres com o meu perfil. A realidade é outra. As meninas e mulheres da periferia estão engravidando porque não têm o pacote básico de educação e acesso aos métodos anticoncepcionais.


Educação sexual para decidir.

Anticoncepcionais para não abortar.

Aborto legal para não morrer.


.


Se homem engravidasse, esse assunto jamais seria um tabu seria possível abortar em qualquer clínica de esquina.


  • 17 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 26 de jan. de 2021


Eu e Bruno temos notado uma constante nas reações das pessoas desde que ELE RESOLVEU CONTAR PRO MUNDO DA NOVA GESTAÇÃO.


Basicamente, a galera tem sempre uma péssima notícia para dar sobre essa jornada que se inicia.


É assim:


_ Está enjoando, Paulinha?

_ Estou sim.

_ Então prepara pra azia que é muito pior.


_Vai ser papai, Bruno?

_ Vou sim.

_ Já viu o preço da mensalidade da escola?


_ Estão grávidos?

_ Estamos sim.

_ Aproveitem pra dormir agora.


Ontem, fiquei animada porque percebi minhas unhas crescendo bonitas e resolvi perguntar no Instagram se era obra da gravidez.

Descobri que sim e, também, que tudo acaba no pós parto.

“Vai cair tudo.”

“Depois do parto fica muito pior.”

“Prepara pro puerpério.”


Fico pensando aqui o que será que leva essas pessoas a serem tão desanimadoras com alguém que elas nem sabem como está passando pela gravidez.


Veja bem, sou uma grávida ansiosa e depressiva, cheia de medos porque acabou de perder um neném e que está tentado descobrir a alegria desse momento.


Por enquanto vivi algumas coisas ruins e agora cheguei num estágio que não sinto mais as coisas direito. Parece que perdi a minha intensidade. Estou numa fase que não é nem bom, nem ruim. É um estado neutro.


Não tenho barriga. Não enjoo mais. Tô bem lesada e não sinto nada além de sono e fome.

Uma pequena felicidade de uma unha que cresce forte e bonita me deixa animada.


Opa. Tem uma coisa maneira começando a acontecer.

Daí, vem a tal da rede de apoio e me diz:

_ Não se iluda. Gravidez é um merda mesmo.


É uma rede de apoio ao contrário. Parece que essas pessoas foram tão iludidas com uma visão romantizada da gravidez que ficaram frustradas com a realidade.


Elas pensavam que iam acordar com passarinhos cantando na janela e não iam sentir dor com um útero tomando todo o espaço que antes era ocupado pelas suas vísceras?


Tem alguém se alimentando do meu sangue pra poder crescer dentro de mim, caralho. A parte ruim eu já estou vivendo, me deixa ter um pingo de alegria com a parte boa.


Ninguém se prepara pra uma azia. Eu só fico mais ansiosa pensando que já que o enjoo passou, a qualquer hora vai chegar a porra da azia.


Ninguém vai tomar um citotec porque a escola tá cara.


Ninguém guarda o descanso de um sono da tarde num potinho pra poder abrir quando a criança acordar pela 4ª vez na madrugada.


  • 10 de dez. de 2020
  • 1 min de leitura

Minha escrita está difícil.


Não consigo mais encontrar as palavras que dão mais contornos e significados às minhas frases. Eu sou óbvia, clara e sem graça agora.


O que você está lendo é isso mesmo que eu quero dizer.


Não tem um sentido mais profundo, não tem delicadeza e você nem precisa se esforçar pra entender a totalidade das minhas linhas.


Eu costumava escrever as entrelinhas, usar metáforas e termos com significados múltiplos. Adorava amarrar uma história toda só nas últimas frases. Jogar verbos potentes em frases solitárias que encadeavam a minha respiração.


Gostava de sentir que o meu texto era o texto de quem lia.

Pra cada pessoa, um significado diferente.


Quantas vezes minha irmã me perguntou se eu havia escrito pra ela. Quantas amigas e amigos usaram meus contos e poemas para explicar o que eles estavam sentindo naquele momento. Uma até me pediu pra assinar com o nome dela.

Eu deixei.


Afinal as palavras estão aí e a mistura delas é eterna. Depois escrevo outro, outros, milhares de outros, infinitos outros.


Agora o léxico me trai. Não é o velho clichê de que as palavras me escapam. Elas estão aqui, mas só as pueris e ululantes.


E este é o fim possível dessa divagação das 10 semanas (tem uma azeitona verde no meu útero ao que tudo indica).


Pelo menos consegui usar: contornos, entrelinhas, metáforas, léxico, pueris e ululantes.

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