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  • 17 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 26 de jan. de 2021


Eu e Bruno temos notado uma constante nas reações das pessoas desde que ELE RESOLVEU CONTAR PRO MUNDO DA NOVA GESTAÇÃO.


Basicamente, a galera tem sempre uma péssima notícia para dar sobre essa jornada que se inicia.


É assim:


_ Está enjoando, Paulinha?

_ Estou sim.

_ Então prepara pra azia que é muito pior.


_Vai ser papai, Bruno?

_ Vou sim.

_ Já viu o preço da mensalidade da escola?


_ Estão grávidos?

_ Estamos sim.

_ Aproveitem pra dormir agora.


Ontem, fiquei animada porque percebi minhas unhas crescendo bonitas e resolvi perguntar no Instagram se era obra da gravidez.

Descobri que sim e, também, que tudo acaba no pós parto.

“Vai cair tudo.”

“Depois do parto fica muito pior.”

“Prepara pro puerpério.”


Fico pensando aqui o que será que leva essas pessoas a serem tão desanimadoras com alguém que elas nem sabem como está passando pela gravidez.


Veja bem, sou uma grávida ansiosa e depressiva, cheia de medos porque acabou de perder um neném e que está tentado descobrir a alegria desse momento.


Por enquanto vivi algumas coisas ruins e agora cheguei num estágio que não sinto mais as coisas direito. Parece que perdi a minha intensidade. Estou numa fase que não é nem bom, nem ruim. É um estado neutro.


Não tenho barriga. Não enjoo mais. Tô bem lesada e não sinto nada além de sono e fome.

Uma pequena felicidade de uma unha que cresce forte e bonita me deixa animada.


Opa. Tem uma coisa maneira começando a acontecer.

Daí, vem a tal da rede de apoio e me diz:

_ Não se iluda. Gravidez é um merda mesmo.


É uma rede de apoio ao contrário. Parece que essas pessoas foram tão iludidas com uma visão romantizada da gravidez que ficaram frustradas com a realidade.


Elas pensavam que iam acordar com passarinhos cantando na janela e não iam sentir dor com um útero tomando todo o espaço que antes era ocupado pelas suas vísceras?


Tem alguém se alimentando do meu sangue pra poder crescer dentro de mim, caralho. A parte ruim eu já estou vivendo, me deixa ter um pingo de alegria com a parte boa.


Ninguém se prepara pra uma azia. Eu só fico mais ansiosa pensando que já que o enjoo passou, a qualquer hora vai chegar a porra da azia.


Ninguém vai tomar um citotec porque a escola tá cara.


Ninguém guarda o descanso de um sono da tarde num potinho pra poder abrir quando a criança acordar pela 4ª vez na madrugada.


  • 10 de dez. de 2020
  • 1 min de leitura

Minha escrita está difícil.


Não consigo mais encontrar as palavras que dão mais contornos e significados às minhas frases. Eu sou óbvia, clara e sem graça agora.


O que você está lendo é isso mesmo que eu quero dizer.


Não tem um sentido mais profundo, não tem delicadeza e você nem precisa se esforçar pra entender a totalidade das minhas linhas.


Eu costumava escrever as entrelinhas, usar metáforas e termos com significados múltiplos. Adorava amarrar uma história toda só nas últimas frases. Jogar verbos potentes em frases solitárias que encadeavam a minha respiração.


Gostava de sentir que o meu texto era o texto de quem lia.

Pra cada pessoa, um significado diferente.


Quantas vezes minha irmã me perguntou se eu havia escrito pra ela. Quantas amigas e amigos usaram meus contos e poemas para explicar o que eles estavam sentindo naquele momento. Uma até me pediu pra assinar com o nome dela.

Eu deixei.


Afinal as palavras estão aí e a mistura delas é eterna. Depois escrevo outro, outros, milhares de outros, infinitos outros.


Agora o léxico me trai. Não é o velho clichê de que as palavras me escapam. Elas estão aqui, mas só as pueris e ululantes.


E este é o fim possível dessa divagação das 10 semanas (tem uma azeitona verde no meu útero ao que tudo indica).


Pelo menos consegui usar: contornos, entrelinhas, metáforas, léxico, pueris e ululantes.

  • 30 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Depois do Bruno contar da gravidez pra Deus e o mundo, postei no Instagram, para vencer o ódio do meu marido e conseguir seguir em frente.


O POST

Antes de contar que eu estou grávida (de novo), eu queria contar que perdi um neném em maio.

Acredito que fechar esse ciclo vai ser importante pra eu enfim curtir essa nova loucura.



Dia 02 de maio, descobrimos que estávamos GRÁVIDOS. Vinha aí um filhote de Marx com Budah. O Grande Stuckert. Contamos pra vários amigos pra dar alguma boa notícia no meio dessa quarentena.


Só 6 dias depois, veio um sangramento sem fim. Nem fomos ao hospital. Bola pra frente. Foi a primeira tentativa. NÃO VAI TER NENÉM.


Fizemos a entrega das doações na ocupação do CCBB e voltei com a alma lavada e o coração quentinho.


No dia seguinte era DIA DAS MÃES. E lá se foram um milhão de mensagens não respondidas (perdoem, meus amigos), poucas lágrimas e um coração congelando pra sobreviver.


Depois da consulta com a obstetra, fizemos um novo exame e descobrimos que os hormônios continuavam subindo.


Eu era A GRÁVIDA DE SCHORINDGER. Ao mesmo tempo gestante e não gestante. Descobrimos uma GRAVIDEZ ECTÓPICA. O embrião insistente continuava se desenvolvendo, mas no lugar errado.


Mas não podia ser uma ectópica comum, tinha que ser uma GRAVIDEZ ECTÓPICA CERVICAL. Das mais raras. Das mais loucas. Das mais tristes. (Não procure no Google. É triste mesmo.)


Graças as deusas da natureza, a Cinthia, minha irmã e anja de asa, chegou na história e eu só precisava seguir a voz pragmática e salvadora dela.


No dia 15, fizemos o procedimento mais triste da minha existência. Sem sedação, ouvi as frases mais duras, vindas das bocas mais carinhosas que preservavam a minha vida.


Por sorte, o meu coração já estava uma pedra completa, mas senti ele parando também junto com o dele.


Uma dose de químio e uma semana depois, UM NOVO SANGRAMENTO. Que virou uma hemorragia e acabou levando a uma INTERNAÇÃO e uma transfusão. (DOEM SANGUE NA PANDEMIA!)


Isolados na casa dos meus pais, me alimentaram de feijão com limão, fígado e açaí até a anemia passar.


Passei 6 dias grávida e 3 meses perdendo um neném.


Não me lembro de muita coisa desses dias eternos.


Estava dormente. Um zumbi.

Vazia. Ressecada. Ressentida.


Com o tempo, meu corpo voltou ao estado natural.


Meu coração jamais voltará.

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